My blog in your language

domingo, 22 de maio de 2011

"Coleta Seletiva em São Luís: um sonho que ainda esbarra na realidade"



Oi amados! Hoje resolvi fazer um post sobre uma pequena reflexão que tive após ter trabalhado, como supervisora, com essas guerreiras que chamamos vulgarmente de catadoras..Eu prefiro chamá-las de sonhadoras..apesar de tudo! Então, como esse blog preconiza os sonhos..vamos refletir juntos? Boa semana!

Discorrer sobre reciclagem nos últimos tempos nos parece um lugar comum. Mas se nos permitimos um olhar mais cuidadoso da questão, verificaremos que na cidade de São Luís ainda há muito por fazer para que a mesma venha a, de fato, fazer parte do nosso cotidiano.
Ao situarmos a questão no âmbito nacional nos depararemos com algumas estatísticas da ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – que nos fazem pensar melhor sobre a reciclagem. Elas nos dizem que a média de lixo gerado por pessoa no país foi de 378 quilos (kg), montante 5,3% superior ao de 2009 (359 kg) e o levantamento aponta uma melhora na destinação final dos resíduos sólidos urbanos: 57,6% do total coletado tiveram destinação adequada, sendo encaminhados a aterros sanitários, ante um índice de 56,8% no ano de 2009. Porém, a quantidade de resíduos encaminhados a lixões ainda permanece muito alta, representando um montante de 23 milhões no ano de 2010. E vale lembrarmos que no Nordeste existem 866 lixões os quais acabam representando 51% dos existentes no país. Em relação à reciclagem, o estudo da associação mostra certa tendência de crescimento, mas muito menor em relação ao da geração de lixo. Em 2010, 57,6% dos municípios brasileiros afirmaram ter iniciativas de coleta seletiva (não necessariamente advindas do poder público), ante 56,6% em 2009. Neste último ponto, sim, começará o cerne do assunto que queremos tratar aqui.
Segundo os objetivos do milênio no que diz respeito ao meio ambiente, preconizados pelas Organizações das Nações Unidas, encontramos vários itens referentes à questão do lixo, tais como a contribuição com a limpeza da cidade; realização de mutirões de limpeza; implementação de coleta seletiva em escolas, condomínios, bairros; incentivo do uso de sacolas reutilizáveis para compras e do uso de produtos feitos com material reciclado. Dentre os itens citados, acreditamos que a maioria deles ainda não é suficientemente recorrente em São Luís, seja pela incipiência do debate que envolve a questão na cidade, seja pela ausência de incentivos (donde se inclui divulgação) dos mais diversos setores para que a população, de fato, passe a gerir melhor o destino dos seus resíduos.
Para situarmos melhor esta discussão que pretendemos suscitar através deste singelo artigo, basta citarmos que a única associação de catadores legalizada em São Luís é a ASCAMAR – Associação de Catadores de Material Reciclável – e que a mesma foi criada pela Prefeitura de São Luís, mais precisamente pela SEMOSP, Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos, no ano de 2004. Só para sublinharmos este item aqui citado, segundo o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), existiam no Brasil, em 2009, cerca de 600 cooperativas formais que reuniriam mais de 40 mil catadores. A ASCAMAR sobrevive graças a doações de materiais recicláveis originadas, na sua grande maioria, por empresas parceiras, e depende do auxílio da Prefeitura de São Luís para recolher estes resíduos, já que o caminhão de coleta é de propriedade desta última. Só que vários problemas pairam sobre a eficácia do projeto que originou a associação, já que nem sempre a mesma conta com a regularidade destas doações e a ausência de maquinário adequado para alavancar a produção da ASCAMAR entravam seu processo de consolidação como ponte na coleta seletiva na cidade.
Vi de perto a luta das mulheres da associação citada ao conviver com elas através do trabalho que desempenhei como supervisora de uma organização não governamental, de amplitude nacional, que visava auxiliar os catadores através da formação de parcerias com empresas, do acompanhamento e estímulo de fomento da produção da mesma e através do ensino de técnicas de melhoria de gestão da associação, só para citarmos alguns objetivos. Nesta experiência pude, igualmente, observar que, além de um trabalho árduo, a ocupação de catador perpassa por questões como o preconceito por parte de parcelas da sociedade, a falta de perspectiva no que tange à renda e à instabilidade desta e o desejo de que haja, num futuro próximo, a conscientização da população local em relação tanto à importância da atividade do catador (a), bem como a efetiva separação e doação de materiais recicláveis.
Se as premissas que devem ser aplicadas na geração e destinação do lixo, a nível mundial, são reduzir (diminuição do uso de matérias-primas), reutilizar (reaproveitar ao máximo os materiais dentro do seu próprio ciclo de vida) e reciclar (recuperação dos materiais para, além de tudo, diminuir a poluição do meio ambiente), notamos que a cidade de São Luís precisa, urgentemente, seja através de seus gestores, seja através das empresas as quais incrementam a sua economia e seja, sobretudo, por meio de seus moradores conscientizar-se que já está mais do que na hora de fazermos parte do rol de cidades preocupadas com o futuro.
Para que este futuro, de fato, venha a apresentar a tão famosa sustentabilidade, não podemos nos esquecer de mudarmos nossos hábitos e passarmos, assim, a efetivamente separarmos os resíduos passíveis de serem recicláveis, bem como clamarmos por mais atenção no que concerne à coleta seletiva local. Estas mudanças têm grande impacto no cotidiano de várias famílias que vivem da renda desta triagem, sejam em associações, cooperativas, ruas, lixões ou aterros sanitários e, o reaproveitamento destes mesmos resíduos, pode vir a deixar a presente cidade não só mais limpa, mas também mais justa com a natureza que a permeia.


Por Michelle Louzeiro Nazar, graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão e ex-supervisora da ONG carioca Doe Seu Lixo.